Modernidade Difusa : A recepção Hispânica de Eugénio de Castro
Sinopse
Este trabalho tem como tema a receção hispânica de Eugénio de Castro (1869-1944) entre o final do século XIX e os primeiros quarenta anos do século XX. Propondo uma releitura do peso do autor na definição da modernidade ibérica, contrariando a tradicional leitura nacional e linear que lhe atribui um papel secundário na história portuguesa, adota-se a perspetiva transnacional preconizada pelos Estudos Ibéricos, a qual permite articular a diversidade de tendências que coexistem no período modernista, de que o poeta é ele próprio exemplar, dada a polimorfia da sua obra e ação.
Proceder-se-á assim a uma descrição e análise dos dados da receção espanhola de Castro, justificando-a e interpretando-a. Verificar-se-á a importância de atender à relação do espaço ibérico com as culturas ibero-americanas, cenário inaugural desta receção, e com França, referente central. Mais se observará a diversidade e longevidade intergeracional da atenção espanhola ao poeta, que toca autores habitualmente segregados no modernismo, na Geração de 98, nas Vanguardas históricas, ou no Veintisiete, sustentando a redefinição do modernismo como categoria periodológica heterogénea.
Far-se-á também a caracterização da identidade ibérica que a aproximação espanhola a Castro constrói, sublinhando a sua dimensão ideológica. Observar-se-á o seu perfil periférico, testemunhado pela presença do referente francês nos comentários espanhóis ao poeta. Mais se destacará que, se na América Castro é instrumentalizado no âmbito da descolonização cultural ibero-americana, em Espanha é objeto de uma iberização castelhanocêntrica, progressivamente institucionalizada e politizada, de teor pós-imperial, assumindo a identidade ibérica caráter supletivo.
Assim, a identidade ibérica que através da receção de Castro se inventa é periférica, castelhanocêntrica e pós-imperial, progressivamente institucional e politizada. Por último, observaremos que esse caráter periférico ajuda a justificar a ambiguidade estética plasmada nas leituras hispânicas do poeta, que motivam uma releitura da obra e ação do português, respondendo tanto a uma ideia de modernidade como a uma dimensão contramoderna.
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