Ensaios da Imaginação com a Paisagem : O Alentejo de Antunes da Silva

Ensaios da Imaginação com a Paisagem é um trabalho sobre a obra de Armando Antunes da Silva (Évora, 1921-1997), desenvolvido em torno de dois grandes objectivos: apurar a singularidade deste escritor dentro da literatura portuguesa; e acompanhar, durante a segunda metade do século XX, a evolução do Alentejo, espaço presente em toda a produção antunina como objecto de reflexão e lirismo.

  Para alcance destes propósitos, seleccionámos três obras do autor – o romance Suão (1960) e os seus dois diários, Jornal I (1987) e Jornal II (1990). Pelo tempo histórico documentado nos três livros, coincidente com a data de edição, ficou garantida à partida a abrangência de um período considerável da realidade do Alentejo, que desde o início contou alongar-se com a imagem da região nos anos 40, transmitida em Gaimirra, colectânea de contos lida antes pela autora.

  Todavia, a preocupação em efetuar uma leitura dos livros seleccionados concordante com o resto da produção de Antunes da Silva conduziu à reflexão sobre outros textos que se incluem na respectiva actividade jornalística ou na literária. Por isso, em Ensaios da Imaginação com a Paisagem fica-se também a conhecer narrativas como Alentejo É Sangue ou A Fábrica, a par da poesia antunina: Canções do Vento, Rio Degebe, entre outros. Em sintonia com as prosas e os versos referidos, interpretámos igualmente as reportagens de Terras Velhas Semeadas de Novo e Alqueva a Grande Barragem.

 Sendo o autor escolhido uma voz de crítica construtiva ao Estado Novo e à jovem democracia portuguesa, desde o começo se impôs o esclarecimento da sua ideologia política. O conhecimento das ideias-base do MDP/CDE, o partido onde activamente milita, a leitura daquelas reportagens e de textos diarísticos, todos eles publicados após a revolução do 25 de Abril, e também a análise de Notícias do Sul (1976 a 1981), o jornal que Antunes da Silva dirige, ajudaram a descortinar as ideias políticas e de cidadania presentes na sua literatura, enquanto lhe forneciam um contexto. O quadro sociocultural e político-económico do Alentejo do século XX conseguido resulta ainda da intercepção da perspectiva antunina com a de outros interessados na região.

   Sempre movidos pela vontade de distinguir Antunes da Silva no panorama das Letras nacionais, procurámos noutros escritores as influências na sua escrita. Defensor permanente do valor humano da Planície, e encantado até à morte pela sua paisagem solar, Antunes revela, nos diários e nalguns artigos de imprensa, as palavras em volta das quais as suas se entretecem. Imperioso, pois, cruzar com o seu labor regionalista obras como As Novelas do Minho, de Camilo Castelo Branco e autores transtaganos como Mário Beirão, Fialho de Almeida, Manuel Ribeiro ou Garibaldino de Andrade. Esclareça-se que a escolha de textos e escritores teve por critério não só as referências do nosso autor, mas ainda prosseguir o esforço empreendido por ele para homenagear a cultura alentejana. Com este repto, e sobretudo por causa de Manuel Ribeiro de Pavia, artista que embelezou alguns dos livros antuninos, criou-se um anexo sobre os ilustradores da literatura em foco.